Coltec comemora 40 anos sob nova diretriz
para o ensino técnico
Abertura de jogos estudantis no Coltec no final dos anos 70 |
Ana Maria Vieira
A rotina das aulas do professor e poeta Ronald Claver, no Colégio Técnico da UFMG, não era nada convencional, para a década de 1970. À época, confidencia um ex-aluno, ele chamava seus pupilos para a área externa da escola e, sentados sob uma árvore, pedia a todos que abrissem o livro em uma página que, para espanto geral, encontrava-se em branco. A tarefa? Criação livre.
Ronan: impacto |
Zé Du: página no Orkut |
Gledson: primeiro diretor |
Anny Jackeline: apoio inglês |
“Nunca havia ouvido falar disso”, relata o hoje psicólogo e funcionário da UFMG Ronan Gontijo. O impacto sobre o ex-aluno era tanto maior porque, recém-transferido do interior, onde estudara em colégio militar, era posto em contato com um currículo diversificado nas áreas técnicas e de humanidades, sob a égide de um sistema estranhamente liberal para o período, mas extremamente exigente. “Passávamos o dia inteiro no colégio e à noite estudávamos em casa. Contávamos com laboratórios bem equipados, estávamos inseridos num campus universitário, e muitos professores tinham título de mestre ou doutor”, relembra.
Com diferenças aqui e acolá, relatos de diversas gerações de alunos e professores do Coltec sempre trazem uma linha em comum: a capacidade desse espaço singular na vida da Universidade em proporcionar ensino de qualidade enquanto imprime os sentidos da amizade, liberdade e responsabilidade entre jovens que iniciam seu amadurecimento intelectual e social.
A partir de junho, parte dessa história, agora sob o prisma institucional, poderá ser revisitada pela comunidade. O Coltec, que completou 40 anos em fevereiro passado, vai estar em exposição no saguão do prédio da Reitoria. Fotos, documentos, equipamentos e vídeos oferecerão trilhas para que o público conheça ou relembre a trajetória da escola. “É um material que estava disperso pelos setores do Colégio. Vamos agora selecioná-lo para a mostra”, informa o professor de fotografia do Coltec José Eduardo Moreira, o Zé Du, um dos integrantes da comissão organizadora das atividades comemorativas do aniversário.
O objetivo do grupo é proporcionar ao público atividades de diversas modalidades ao longo do ano. A abertura ocorreu em fevereiro, com a aula inaugural proferida pelo primeiro diretor do Colégio, Gledson Luiz Coutinho. Selo, cartão e carimbos postais também serão lançados pelos Correios para comemorar a data. Além disso, estão sendo organizados eventos para entrega de medalha a ex-diretores e reeditados outros que já fazem parte da tradição da escola, como o Filho Pródigo – que ocorre anualmente no campus, reunindo cerca de dois mil ex-alunos – e o Coltequintas, espécie de hapenning em que os “coltecandos” mais inspirados apresentam suas poesias, músicas e bandas. “Criamos a página Coltec 40 anos no Orkut para que alunos e ex-alunos interessados em participar possam entrar em contato e inscrever seus números”, informa Zé Du.
As comemorações não param aí: provavelmente no segundo semestre o público poderá conferir a produção científica do Colégio, em mostra que será realizada no campus Pampulha. “O objetivo é resgatar o espírito do evento Dia da Amizade, espécie de precursor da UFMG Jovem”, observa o professor. A programação pode ser acompanhada no site da escola (www.coltec.ufmg.br).
Fantini: critérios socioeconômicos |
Pacífico: protagonismo |
Amplitude
Inaugurado em 1969, durante a gestão do reitor Gerson Boson, o Coltec foi forjado no reitorado anterior, conduzido pelo professor Aluísio Pimenta. De acordo com levantamento histórico feito pela professora de História Anny Jackeline Torres Silveira, junto com o aluno Jaime Lopes, a iniciativa não foi isolada. Ela se inscrevia num plano de reestruturação geral da UFMG, que deu origem a outras unidades acadêmicas, mas com um caráter bastante particular: deveria atender às necessidades de formação profissional.
“A oferta de cursos adequava-se à proposta de preparação de técnicos e especialistas necessários às universidades, à indústria, aos serviços de saúde e às pesquisas científicas e tecnológicas”, relata texto produzido pela pesquisadora. Historicamente, o período também era favorável à criação da Escola. Conforme lembra a professora, aqueles tempos eram impregnados pelo desenvolvimentismo e, consequentemente, pela valorização da qualificação profissional.
Os planos se concretizaram por meio de convênio entre o Conselho Britânico, a UFMG, o MEC e o CNPq, no final dos anos 60. De acordo com Anny Jackeline, o apoio dos ingleses incluía serviço de conselheiros especializados, treinamento de pessoal brasileiro em instituições da Inglaterra, equipamentos e capital para instalação de laboratórios. “O projeto da nova escola propunha uma aprendizagem de qualidade, através do método empírico, valorizando o contato mais próximo entre alunos e professores”, escreve a historiadora.
“A ideia dos ingleses era proporcionar uma formação de técnicos com visão polivalente”, considera, por sua vez, o ex-aluno do Coltec Paulo Lamac, vereador e líder do governo municipal na Câmara de Belo Horizonte. Avaliando o impacto da proposta pedagógica então em curso, Lamac salienta que ainda a considera moderna e importante para o país, pois permitiu educar “cidadãos com visão crítica e ampla das áreas, sem tecnicismo”. Essa orientação, lembra ele, ainda é necessária ao crescimento da economia. “Há esgotamento da mão-de-obra técnica ”, alerta o vereador, que estudou no Coltec no período 1987-90 e na sequência se graduou em engenharia elétrica pela UFMG. Ele é autor de proposta de homenagem que a Câmara Municipal prestará ao Colégio ainda este ano.
Reportagem publicada no Boletim UFMG em 20/04/09
Um comentário:
No dia 17 de setembro, na sede da OAP-Organização dos Aposentados e Pensionistas da UFMG, na Praça de Serviços, realizou-se o lançamento de um livro de minha autoria: ADMINISTRAÇÃO UNIVERSITÁRIA: A REFORMA DE 1968 - Nem completamente entendida, nem completamente implantada. Nele, falo pouco do Coltec, que não foi incluído na Reforma, mas falo da UFMG de então e da organização da UFMG de hoje. O livro está à venda nas livrarias do Campus.Para mais informações, veja o meu blog http://administracaouniversitaria.blogspot.com/ ou faça contato comigo.
Gledson Luiz Coutinho
gledson.coutinho@terra.com.br
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